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31 janeiro 2012

Confissão: alguns obstáculos

Por Rafael Stanziona de Moraes 

Uma pessoa afastada da prática religiosa, que chegue a convencer-se da conveniência de fazer uma boa confissão, pode tropeçar em alguns obstáculos. Por um lado, é possível que não se sinta com o mínimo de fé necessário. Por outro, talvez ache que o seu desejo de mudar não é suficiente para solicitar o perdão divino com sinceridade. E, finalmente, pode desanimar por não saber fazer o exame de consciência ou por já não se lembrar bem dos ritos do sacramento. Deve superar esses obstáculos.

CONFISSÃO E FÉ

Objetava certo penitente às instâncias do sacerdote: “Eu estaria disposto a confessar-me, mas não tenho fé. Tenho muitas dúvidas de fé. Precisaria primeiro resolvê-las. Depois, sim, poderia confessar-me”. E o sacerdote, sabendo que essa pessoa tinha apenas uma fé enferma, insistia no contrário: devia confessar-se primeiro para depois resolver as suas dúvidas. Prevaleceu o sacerdote. O penitente confessou-se, e Depois... já não tinha nenhuma dúvida.

Ninguém vacile em confessar-se por pensar que perdeu o sentido vivo da fé. Experimente fazê-lo, mesmo que lhe pareça estar representando uma comédia, pois nessa “comédia” não há nenhuma hipocrisia. Verá que, na realidade, nunca tinha deixado de ter fé.

Com efeito, mesmo que nos tenhamos afastado muito de Deus, muitas vezes não perdemos a fé, porque a fé é um dom dEle e não um triunfo nosso. Só é possível perdê-la por um pecado grave cometido diretamente contra ela. A não ser em caso de incredulidade formal, de apostasia ou de heresia, a maior parte das vezes conservamos a fé. Se ela não influi na nossa vida, se não a “sentimos”, é simplesmente porque está enterrada sob o monte de lixo que lhe jogamos em cima. Está lá, mas abafada pelos nossos pecados. Quando os removemos..., ela aparece.

Também não tem nenhuma importância que ainda não compreendamos inteiramente a razão pela qual determinada conduta é pecaminosa. Basta que confiemos na palavra de Deus, tal como a transmite o ensinamento oficial da Igreja, e que estejamos dispostos a agir como Deus manda. Depois entenderemos de modo pleno. De momento, isso não é possível pela falta de retidão da nossa vida, pois a falta de retidão obscurece a luz da fé. Quem vive desordenadamente, não compreende a regra. Compreendê-la-á quando se tiver corrigido. A Confissão, ao devolver-nos a retidão de vida, devolve-nos também a clareza da fé e o sentido sobrenatural.

Assim, quem se confessa, além de experimentar um grande alívio na consciência, sente-se como se tivesse saído de um túnel escuro para abrir-se a um dia de sol radiante. Abandona o ambiente sombrio e rarefeito do subjetivismo, da solidão, dos ressentimentos, das perplexidades, da contradição, da falta de sentido e da tristeza. E compreende “o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé”1 . Percebe que, ao contrário do que lhe sugeria o orgulho pessoal, não passa de uma pobre criatura, mas de uma criatura protegida por Deus. Sente que o próprio Deus o ama, e abrasa-se nesse amor.

Além do mais, quem chega a adquirir o hábito de confessar-se periodicamente, valendo-se das sucessivas avaliações feitas sobre o seu comportamento nas diferentes confissões, e valendo-se sobretudo da graça, vai adquirindo a capacidade de julgar, certeiramente, à luz da fé, as situações concretas da vida. Adquire a virtude sobrenatural da prudência. Aprende a não se deixar influenciar sem discernimento pelas oscilações da sua emotividade, pela pressão da opinião da maioria, pelo bombardeio de slogans dos meios de comunicação ou pelos costumes do ambiente.


CONFISSÃO E MUDANÇA DE VIDA

Para podermos confessar-nos validamente e receber o perdão de Deus, é evidentemente necessário que estejamos dispostos a retificar o nosso comportamento. Ou seja, é preciso que repudiemos o erro cometido, chegando a uma disposição da vontade tal que, se voltássemos a encontrar-nos nas circunstâncias em que o cometemos, não tornaríamos a cometê-lo. Também é preciso que estejamos decididos a evitar todas as ocasiões de pecado: Se o teu olho direito te escandaliza, arranca-o e lança-o longe de ti, manda Jesus explicitamente (Mt 5, 29). E no caso de termos praticado uma injustiça contra alguém, há a obrigação de restituir ou reparar. Além disso, muitas vezes, será necessário romper com situações de vida irregulares, que podem chegar a ser bem complexas, quando não nos confessamos há muito tempo.

Se não fosse assim, não haveria sinceridade no nosso arrependimento, pois o propósito de não voltar a pecar é parte essencial da contrição. Não se trata de sentimentos, mas de efetivas disposições da vontade. Ora, isso pode não ser nada fácil. Talvez não nos sintamos com coragem para uma mudança que afetará a fundo o nosso estilo de vida. É possível que ainda não nos sintamos preparados para quebrar os laços do comodismo, da sensualidade, da avareza, etc. E, por mais que desejemos fazê-lo, provavelmente não nos parecerá que sejamos capazes de evitar, para o futuro, todo e qualquer tipo de reincidência no erro. Sentimo-nos fracos e prevemos que, ainda que nos esforçássemos ao máximo, voltaríamos a cair.

A esta dificuldade deve-se responder afirmando, em primeiro lugar, que não é preciso esperar ter uma decisão de emenda absolutamente perfeita e segura para procurar a confissão. Basta o desejo sincero de voltarmos a aproximar-nos de Deus e de começarmos a retificar e a lutar de verdade. Ele nos ajudará a alcançar as disposições indispensáveis.

Por outro lado, convém não esquecer que a perfeita contrição é efeito da graça. A firmeza nos nossos propósitos é, em certo sentido, mais dom de Deus do que conquista nossa. Se chegamos a comprometer-nos com Deus a não mais pecar, fazemo-lo contando humildemente com o auxílio das suas graças. Sozinhos, valendo-nos apenas das nossas forças, evidentemente não o conseguiríamos, mas, com Ele, e mais concretamente com as graças que nos confere através do sacramento, tudo podemos.

E, finalmente, é preciso lembrarmo-nos de que, no caso de fraquejarmos e voltarmos a cair, apesar da sinceridade do propósito e do esforço por evitar a queda, podemos contar com a reiteração da confissão. Aliás, não é de estranhar que um doente crônico precise de várias aplicações do remédio para curar-se por completo.

Em resumo, quem vai confessar-se pela primeira vez, ou depois de muito tempo, sente-se confuso, inseguro. Normalmente, embora tenha começado a arrepender-se, ainda está vacilante, pouco convencido de que valha a pena mudar e sem coragem para enfrentar as dificuldades que a conversão traz consigo. Não importa. Pouco a pouco, com as sucessivas confissões, a sua boa vontade irá firmando-se. E passado algum tempo, depois de ter conseguido retificar a fundo o seu comportamento, chegará a odiar o pecado e a experimentar por ele uma repulsa que pode chegar a ser quase física.


NÃO É COMPLICADO

Se alguém não se confessa há muito tempo e já esqueceu os ritos da Confissão, ou se sente dificuldade para fazer o oportuno exame de consciência, não se preocupe.

A cerimônia da Confissão é breve e simples. Não é preciso saber nenhuma fórmula ou oração de cor. O próprio sacerdote nos vai indicando a seqüência das coisas a fazer. E o exame de consciência também não é problema. Basta que, depois de termos procurado fazê-lo bem, peçamos a ajuda do padre e ele nos irá orientando, ou perguntando na hora a respeito dos diferentes tipos de pecado que possamos ter cometido, explicando-nos, além disso, quaisquer dúvidas que possamos ter.

Podemos estar tranqüilos. Ir confessar-se é como ir a um médico amigo e muito experiente. Com um simples bater de olhos ele já intui as nossas queixas e faz as perguntas necessárias. Nenhum sintoma o assusta. Faz os exames pertinentes, acerta o diagnóstico e nos receita o remédio exato. Assim sendo, para nos confessarmos, basta abordarmos um bom sacerdote, da nossa confiança, e dizer-lhe: “Quero confessar-me”. Ele nos ajudará a firmar as nossas disposições, a ser sinceros, a fazer uma confissão íntegra, e a ficar preparados para receber a absolvição.

Será fácil. Em breve tempo estará resolvido. Restará uma penitência por cumprir, que sempre estará dentro das nossas possibilidades, e que ficará muito aquém daquilo que, por justiça, deveríamos pagar pelos nossos pecados. A diferença já foi saldada pelo sangue de Cristo na Cruz.


Fonte: Por que confessar-se?, Quadrante, 4ª. Edição, 2004, pp. 48-53 

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